Entenda tudo sobre a taxa Selic

Atualmente em 4,25% ao ano, a taxa Selic interfere direta e indiretamente no dia a dia dos brasileiros. Definida como os juros básicos da economia, essa taxa serve de base para os demais juros cobrados nas operações de crédito e em boa parte dos investimentos em renda fixa.

Atualmente em 4,25% ao ano, a taxa Selic interfere direta e indiretamente no dia a dia dos brasileiros.

Definida como os juros básicos da economia, essa taxa serve de base para os demais juros cobrados nas operações de crédito e em boa parte dos investimentos em renda fixa.

Na prática, a Selic representa a origem de diversos processos que regem a economia e é o principal instrumento do Banco Central (BC) para segurar a inflação.

A sigla Selic tem origem no Sistema Especial de Liquidação e Custódia, sistema por meio do qual as instituições financeiras compram ou vendem títulos que o Tesouro Nacional repassou ao Banco Central.

O volume de títulos em circulação regula a quantidade de dinheiro na economia, ajudando a controlar a inflação.

A cada 45 dias, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central define uma meta para a taxa Selic. Com base nessa meta, a autoridade monetária vai vender ou comprar títulos para ajustar o volume de dinheiro em circulação. Caso a inflação esteja alta, o BC aumenta a taxa Selic e atrai o interesse dos bancos em comprarem títulos públicos nas chamadas operações de mercado aberto. Isso porque as instituições financeiras adquirem o papel com o compromisso de, em determinada data, pegar o dinheiro de volta corrigido com juros.

Essas operações duram de 24 horas a 90 dias. Quando os bancos compram os títulos no mercado aberto, deixam dinheiro no Banco Central, diminuindo a quantidade de moeda em circulação na economia. Em momentos de queda da taxa Selic, ocorre o contrário. Os bancos vendem títulos ao BC e pegam de volta o dinheiro, que passa a circular.

Segundo a teoria econômica tradicional, quanto mais moeda em circulação, maior a chance de os preços subirem.

Além dos títulos do mercado aberto, o BC tem dois instrumentos para controlar a inflação.

O primeiro é o redesconto, em que os bancos emprestam dinheiro entre si por até 24 horas para cumprir os depósitos mínimos que são obrigadas a ter no Banco Central e cumprirem a lei.

Esses empréstimos são constantes e têm como taxa o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), taxa próxima à Selic.

A segunda ferramenta são os compulsórios, dinheiro que os bancos devem deixar retidos no Banco Central. Quanto mais recursos na conta do BC, menos as instituições financeiras emprestam à população.

O principal instrumento de política monetária, no entanto, continua sendo a Selic, porque permite um ajuste mais fino do dinheiro em circulação e facilita o controle da inflação.

Crédito e consumo

Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil
Real, dinheiro, moeda / Foto: Marcello Casal Jr/Agência Brasil

Por ser a base das demais taxas de juros, a Selic atua sobre todo o mercado de crédito e, por consequência, na atividade econômica.

Quando os juros básicos sobem, como ocorre desde março, as taxas dos demais empréstimos se elevam, tornando mais difícil o acesso ao crédito.

Isso impacta tanto o consumo, principalmente de bens duráveis (carros, eletrodomésticos) como os investimentos das empresas.

Conforme o cálculo dos economistas, a Selic de 6,5% ao ano seria considerada neutra (sem impacto sobre a produção e o consumo).

Desde 2018, o Banco Central tem praticado uma política monetária estimulativa, com a Selic abaixo do nível que impediria a inflação de subir, para estimular o emprego e o crescimento.

O auge dessa política ocorreu entre agosto do ano passado e março deste ano, quando a Selic caiu para 2% ao ano, o menor nível da história.

Investimentos e câmbio

Em tese, cada movimentação na taxa Selic (aumento ou redução) leva de 12 a 18 meses para ser sentida em todo o mercado de crédito.

No entanto, existem outros canais na economia em que a variação dos juros básicos provoca efeitos mais imediatos.

O primeiro canal mais sensível à taxa Selic é o câmbio. Quanto maior a Selic, mais recursos estrangeiros entram no país.

Isso ocorre porque os investidores se baseiam na diferença entre a taxa básica nos Estados Unidos, atualmente numa faixa entre 0% e 0,25% ao ano, e as taxas básicas de países emergentes, como o Brasil.

Os juros mais altos buscam compensar o maior risco dos investidores em relação aos títulos do Tesouro norte-americano, considerados os investimentos mais seguros do mundo.

O segundo canal são os investimentos em renda fixa. Como a taxa Selic influencia diretamente a remuneração de diversas aplicações, qualquer mudança afeta a rentabilidade desses recursos.

Os principais investimentos cujo rendimento sobe com a alta dos juros básicos são os títulos do Tesouro Direto vinculados à Selic, a caderneta de poupança (que atualmente rende 70% da Selic) e investimentos atrelados ao CDI, como Certificados de Depósitos Bancários (CDB), Letras de Câmbio (LC), Letras de Crédito ao Agronegócio (LCA) e Letras de Crédito Imobiliário (LCI).

Por: Wellton Máximo

Fonte: Agência Brasil

A democratização de acesso ao crédito precisa ser colocada ainda mais em prática

A pandemia de covid-19 derrubou a renda de muitas famílias brasileiras, com os índices de inadimplência registrados pela Serasa batendo recorde em abril, com 65,9 milhões de pessoas na lista de devedores e a taxa de desemprego atingindo 13,1% no mês de julho (IBGE).

Mesmo expressivo, o tsunami que o novo coronavírus causou em diversos negócios e orçamentos familiares não pode ser considerado o único motivo da inadimplência no país.

Isso porque, ainda de acordo com a Serasa, 4 de cada 10 adultos estão com contas em atraso e o montante deste grupo já estava na casa dos 60 milhões há um bom tempo.

Isso mostra que o problema, embora agravado pela crise econômica, já existia e o que percebemos no dia a dia é que a falta educação financeira tem um peso grande nessa conta.

E aí entramos em um ponto fundamental nos dias de hoje: o não pagamento de contas pode não somente acarretar no não recebimento de um serviço – como é o caso do fornecimento de luz e telefone – mas também abaixa o score do consumidor, que passa a ter, agora, as suas contas domésticas incluídas no Cadastro Positivo.

Por conta disso é que o citado histórico de comportamento de crédito, cuja lei de autorização foi assinada pelo presidente Jair Bolsonaro em abril de 2019, representa uma boa notícia para o cidadão, que pode ter maior disponibilidade de crédito no mercado, além de juros mais atraentes, partindo-se do pressuposto de que as instituições financeiras conseguem conhecê-lo melhor.

As pessoas são diferentes e, como tal, pagam contas de forma diferente. Parece óbvio, mas até pouco tempo atrás essa ideia não era colocada em prática.

Deixar de pagar uma conta de celular por esquecimento é diferente de se enrolar no cartão de crédito por negligência financeira, por exemplo. Dívidas não são iguais e as motivações que as antecedem também não.

Com a recente inclusão das telefonias no Cadastro Positivo e a eminente adição das contas de luz, água e gás, muitos consumidores sem acesso a empréstimos poderão se beneficiar, especialmente os desbancarizados, que não buscam o serviço nas instituições tradicionais.

A tendência é que o Cadastro ajude a mudar o comportamento das famílias, ao fazer com que a quitação das contas domésticas ganhe ainda mais importância, evitando, ao menos, parte da atual taxa de inadimplência mencionada.

No entanto, cabe dizer que a democratização do acesso ao crédito precisa ser colocada ainda mais em prática.

Avançamos no tema, mas ainda são quatro as empresas que controlam as informações em questão no Brasil, o que dificulta o dia a dia, especialmente, das fintechs que precisam pagar pela consulta ao Cadastro Positivo e, muitas vezes, descobrir que o cliente em questão não pode de fato tornar-se um cliente porque tem dívidas em atraso.

Ou seja, é importante acompanharmos a evolução deste modelo no Brasil e vermos se ele conseguirá atender aos que se afogaram nas ondas da crise.

Por Fernando Iodice, cofundador da fintech iq e vice-presidente do grupo Red Ventures no Brasil